13 noviembre 2007

Um escritor de Angola (3) - Manuel Rui Monteiro

Manuel Rui Monteiro nasceu na cidade do Huambo em 1941. Fez os estudos primários e secundários no Huambo. Licenciou-se em Direito pela Universidade de Coimbra. Publicou O Regresso Adiado, Memória de Mar, Sim, Camarada!, Quem me Dera ser Onda, Crónica de um Mujimbo, 1 Morto & Os Vivos, RioSeco, Da Palma da Mão.
A sua prosa ficção está profundamente marcada por preocupações estéticas de um realismo social que celebra o homem comum. Quando focaliza categorias de personagens da classe média, fá-lo para produzir caricaturas de comportamentos perversos. É aqui que este autor exibe a sua mestria no tratamento da sátira e da ironia. São recursos de grande eficácia no plano semântico-pragmático.
Isto é , no que diz respeito ao conjunto de significações que se lhes associam e ao modo como os leitores os interpretam.O que pode ser provado pelo número de edições e tiragens de Quem me Dera ser Onda, título que suscitou grande empatia do público leitor. É a história de um porco que habita um apartamento na companhia de uma família cujo chefe é Faustino. Da hilaridade ao patético, a presença do animal vai provocando uma série de transtornos aos moradores do prédio, muitos dos quais pautam a sua conduta por regras e valores de um mundo urbano que começa a ser outro, como é este o da domesticação de animais no espaço residencial para a satisfação das necessidades de consumo de carne. É uma sátira mordaz a respeito de fenómenos de mobilidade social de determinadas categorias, do mimetismo dos novos ricos, e do populismo político. O realismo social, a sátira e a ironia logram níveis de elaboração estética em RioSeco, um romance cuja história decorre numa ilha adjacente à parte continental de Luanda. Um casal de refugiados do sul e leste de Angola, em que o marido e a mulher pertencem a etnias diferentes, vai acoitar-se no mundo insular de pescadores pertencentes a uma outra etnia do norte. Tecem profundas relações sociais de solidariedade, e apesar das suas origens étnicas, acabam todos eles, por construir um mundo diferente em que procuram banir a violência que dilacera o continente. No plano da linguagem, Manuel Rui Monteiro experimenta o recurso à diglossia imprópria, através do qual os dircursos das personagens são impregnados de estruturas frásicas e semânticas que vazam das línguas autóctones e de uma psicologia equivalente. Não sendo ainda de desprezar a semântica do antropónimo de uma personagem feminina que é Noíto. Aqui vemos Manuel Rui lançar mão da memória que debita materiais para a ficção, pois trata-se de uma personagem que viveu no Huambo, afamada por ser uma grande quimbanda, ou seja, terapeuta tradicional a quem eram reconhecidos poderes do mundo intangível. E no romance Noíto é, no essencial, uma mulher capaz de decifrar os segredos da natureza e pressagiar infortúnios.
O escritor Manuel Rui Monteiro regressou na passada quarta-feira às bancas, com o lançamento do seu mais recente trabalho literário intitulado "Ombela", uma edição bilingue (umbundu e português), em acto que teve lugar na sede da União dos Escritores Angolanos (UEA), em Luanda. Nesta obra, o autor de "Quem me dera ser Onda", traz a público 20 poemas compostos a partir de «um universo de sensações metafóricas e de feminilidade, cuja essência foi reconstituída do lado em que a palavra é uma gota simples do som da água.» O autor aposta nestes elementos de erotismo e fertilidade criativa para dar vida ao seu mais recente livro de poemas. Numa linguagem de exaltação ao Eu interior, o ‘Ombela’, que em português significa ‘Chuva’, é a reflexão do autor sobre a natureza humana, com particular destaque para a feminilidade, o amor e a relação a dois. Os poemas escritos por Manuel Rui em "Ombela" apresentam um mesmo ritual de arritmia e ressonância, que percorre a infinidade temporal da sua existência, particularmente enquanto entidade mítica e moralizante observadora do comportamento dos homens, emitindo conselhos e apologizando a liberdade das mulheres, a beleza e a alegria da vida. Com ilustração de capa de Manuel Franca e sob responsabilidade da UEA, Manuel Rui Monteiro vai colocar no mercado, nesta primeira fase, mil exemplares do "Ombela".
Com participação activa em diversas áreas (política, social, cívica e ensino), alia a prática da advocacia, que exerce em Luanda, à escrita. Detentor de uma abrangente e multifacetada obra, tem colaboração dispersa em diversos jornais e revistas, figura em antologias de ficção e de poesia. Alguns dos seus textos estão traduzidos em várias línguas. Membro fundador da UEA, Manuel Rui Monteiro é cronista, crítico e ensaísta.

No hay comentarios:

Publicar un comentario